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domingo, 3 de julho de 2011

As imagens da família

Vamos estudar como se representava a família desde a Idade Média, isso seria o estudo Iconográfico, tendo a definição de iconografia, segundo o dicionário Aurélio, como a descrição e estudo das imagens ou representações visuais e o conjunto de imagens e símbolos por um artista ou por uma coletividade.
A representação da vida na Idade Média tinha como tema principal os ofícios e o trabalho, os gauleses da época romana gostavam de representar as cenas de suas vidas de trabalhadores. A temática dos ofícios, na idade média, se ligava também ao tema das estações, assim como o fazia com as idades da vida ou os elementos.
A iconografia tradicional dos 12 meses foi estabelecida no século XII, a representação era feita por mês e seguia a temática dos trabalhadores (os camponeses) e dos nobres. Um exemplo seria janeiro com a festa de Reis que pertencia aos Nobres que eram representados diante uma mesa farta e fevereiro pertencia aos plebeus representados carregando lenha para se aquecerem, conto as imagens sempre são compostas por figuras masculinas e nunca de uma feminina.
Essa iconografia evolui ao longo dos livros de horas até o século XVI. Mas o que é um livro de horas?
Livro de horas é um tipo de manuscrito iluminado comum à Idade Média. Cada livro de horas contém uma coleção de textos, orações e salmos, acompanhado de ilustrações apropriadas, para fazer referência a devoção cristã. Os livros de horas estão entre os manuscritos medievais mais belos e ricamente ilustrados.
As Riquíssimas Horas foram pintadas pelos três irmãos Limbourg — Paul, Hermann e Jean, artistas flamengos contratados pelo duque de Berry por volta de 1405.
A figura feminina é retratada no livro de horas do Duque de Berry  no mês de fevereiro como vemos a seguir:
       Janeiro                             
              Fevereiro
Na imagem de fevereiro já possui três mulheres dentro da casa sentadas em torno do fogo.Em abril já aparece o tema da corte de amor, era a chegada da primavera, a relva está verde e o jovem casal de noivos troca os anéis em primeiro plano, acompanhados de seus familiares e amigos. Como conferimos a seguir:



Em maio a dama já aparece na festa do mês, durante a qual as pessoas deviam vestir-se de verde, com a libré de maio. Os cavaleiros e amazonas são jovens nobres, entre eles avistamos príncipes e princesas. Ao fundo, um castelo que se julga ser o Palais de la Cité, em Paris, ou seja mesmo a mulher nobre já não tem a imagem ociosa retratada.



 
E além da inserção da imagem da mulher, também os senhores donos da terra não são retratados somente desfrutando suas regalias, aparecem junto aos camponeses a fim de fiscalizar o seu trabalho, como se pode ver na imagem do livro de horas do Duque de Berry no mês de agosto:

 
Tem-se então que no decorrer do século XVI a representação da família sofreu modificações, mais frequentemente a família do senhor da terra era retratada entre os camponeses, supervisionando o seu trabalho e participando de seus jogos. O homem não está mais sozinho, o casal não é mais o do imaginário do amor cortês, a mulher e a família participam do trabalho e vivem perto do homem, na sala ou nos campos, contudo a figura da criança ainda não é presente.
O artista da época já sentia a necessidade de apresentar, mesmo que discretamente, a colaboração da família, dos homens e das mulheres da casa, no trabalho cotidiano, com uma preocupação de intimidade até então desconhecida.
A rua é outro locus importante na representação do tema familiar medieval, a rua era o lugar onde se praticavam os ofícios, a vida profissional, as conversas, os espetáculos e os jogos.
O livro de Horas da duquesa de Bourgogne, Maria Adelaide de Savoie, retratava bem esse fato:

Mês de Setembro

A partir do século XVI as crianças começam a aparecer nos calendários, mas elas já apareciam na iconografia do século XVI, particularmente nos Miracles de Notre Dame.
No livro de horas de Adelaide de Savoie, as crianças brincam de bola de neve e atrapalham com a sua bagunça.
 
No livro de horas de Hennessy e de Grimani, na cena do mês de janeiro, a criança aparece na pose do Manneken Pis, urinando pela abertura da porta:

 
Essas representações nos calendários trouxeram então as figuras das mulheres, do grupo de vizinhos e companheiros e também a figura da criança. E a criança se ligava a necessidade até então desconhecida de vida familiar ou “vida em família”.
Entra em cena agora a representação da família juntamente à representação das idades da vida. Havia duas maneiras de se fazer essa representação, uma mais simples era através de uma espécie de pirâmide, a qual os grandes pintores se recusavam a fazer, e a outra era com uma criança, um casal de adolescentes e um velho.
Essa última forma de representação está presente na obra de “As Três idades do Homem” de Ticiano ,1512. 


Nessas composições, as idades da vida eram representadas de forma individualista, como se fosse a previsão da vida de um mesmo indivíduo, contudo ao longo do século XVI surgiu uma nova ideia de representar as idades da vida dentro da hierarquia familiar, o livro “Le Grand Propriétaire de Toutes Choses” traz essa nova imagem.
Nesse mesmo livro são apresentadas as imagens de um casamento e da formação de uma família, desde a concepção do filho até a precoce morte dele. No livro também é apresentada histórias que dão a ideia de sequência da vida e de convívio familiar, nasce então as novas representações da família na Idade Média.

2 comentários:

  1. Quais foram as referências utilizadas?

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  2. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da Família. 2.ed. Rio de Janeiro: CLT, 1981.

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